Terça-feira, 3 de janeiro de 2023 (primeira vez que penso no calendário este ano)

The Road Goes Ever On
The Road goes ever on and on
Down from the door where it began.
Now far ahead the Road has gone,
And I must follow, if I can,
Pursuing it with eager feet,
Until it joins some larger way
Where many paths and errands meet,
And whither then? I cannot say.
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A estrada segue sempre em frente
A estrada segue sempre em frente
Deixando a porta onde começa
Agora distante a estrada continua
E eu devo segui-la, se eu puder
Conquistando-a com meus pés ávidos
Até que ela se junte a um grande caminho
Onde muitas trilhas e tarefas se encontram
E para onde depois? Não sei dizer.
– Canção dos Hobbits que Bilbo canta, ao deixar o condado e passar para Frodo a tarefa de carregar o Um Anel.
131 anos de J.R.R.Tolkien, hoje. Diz a lenda (ou será que é a história quem o diz?) que o mundo fantástico que ele criou começou a partir de histórias que ele gostava de criar e contar para seus filhos. E que foi numa folha em branco que encontrou, um dia, entre os trabalhos que corrigia de seus alunos – tarefa que considerava extremamente tediosa – que ele teria escrito a frase-Gênesis de sua obra: “In a hole in the ground there lived a hobbit (numa toca no chão vivia um hobbit”). E foi a partir dali que fez-se a luz. Ele não sabia ainda nem o que eram os hobbits e muito menos até onde os levaria ou eles a ele. Hoje boa parte do mundo sabe que foram longe, um e outros. Muito longe. Tolkien criou, com riqueza de detalhes sociais, culturais e linguísticos, um dos mais geniais universos de fantasia da literatura mundial. Foi, além disso, um obstinado defensor das histórias como válvulas de escape, e considerava a fantasia como uma forma superior de arte. E suas alegorias sobre o bem e o mal, sobre os homens, seus encantos e fraquezas, suas quedas e conquistas, refrescaram, de certa maneira, estes temas que são tão antigos quanto as eras do mundo.
Cinco anos da primeira crônica deste modesto blog, também neste dia de hoje. A data do aniversário do Tolkien foi só uma coincidência, repito aqui, mais uma vez. Nossas datas de aniversário são o nosso principal elo e nenhuma outra comparação eu ousaria fazer, obviamente. E, embora a inspiração nele seja eterna, o reconhecimento da insignificância perante ele é muito maior. Mas eu tenho que dizer que, como toda fã devota, sigo muito de perto os preceitos do mestre. Acredito na fantasia, na poesia, na sabedoria popular, na maldade dos homens (e mulheres) e na bondade de alguns deles. Sigo viajando pelas minhas próprias sendas de mortos e nos caminhos dos vivos, também. Não carrego poderosos anéis mas, na busca pela leveza para seguir bem, vou deixando alguns fardos pelo caminho. E escapo e escapo nas minhas pequenas histórias… Não há nelas nenhuma mágica, e muito menos, mesmo que de muitíssimo longe, a magia das do Tolkien. Mas eu entendo de alegorias. Numa das melhores de O Senhor dos Anéis, quando a Comitiva do Anel prepara-se para deixar o reino de Loth-Lorien, cada um de seus membros recebe de presente uma capa élfica, para seguir viagem. Ao ser questionado, por Pippin, se aquelas eram capas mágicas, o líder dos elfos que levou os presentes responde assim : “Não sei o que quer dizer. São bonitas, e o fio é de boa qualidade, pois foi feito nesta terra. São vestes élficas, com certeza, se é isso que quer dizer. Folha e ramo, água e rocha, elas têm a beleza de todos esses elementos sob nosso amado crepúsculo de Lorien, pois colocamos o pensamento de tudo o que amamos nas coisas que fazemos. Mas são vestes, não armaduras, e não repelirão lanças ou lâminas. Mas vão servi-los bem: são leves de usar, quentes o suficiente e frescas o suficiente conforme a necessidade. E vão encontrar nelas uma grande ajuda quando precisarem se esconder dos olhos inimigos entre as rochas e as árvores. Realmente, a Senhora os tem em alta conta! Pois ela mesma, com suas aias, teceu esse material, e nunca antes tinhamos vestido forasteiros com as roupas de nosso próprio povo!“
E por aqui eu vou seguindo, tocando devagarinho esse pequeno espaço de ideias e histórias. Estrada à frente, alegorias atrás. Seguindo sempre com fé.
Um bom ano a todos os que me acompanham por aqui!
“Anar kaluva tielyanna!” (O sol brilhará sobre o seu caminho. )
E no meu. Amém!
Parabéns, e obrigado por nos trazer por 5 anos essas crônicas deliciosas, que nos fazem pensar e viajar. Vida longa à Gata Preta!
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Obrigada
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